segunda-feira, 13 de abril de 2009

O sr. Lavoisier não quer fazer aí umas breves?

Durante anos não quis acreditar e lutei contra essa ideia instalada como um puto salta para tentar recuperar a bola das mãos de um adulto cruel que não lha devolve. Também eu era puto, inocente, e achava que sabia mais do que os outros.

No jornalismo, como na química, manda o princípio da conservação da matéria, ou seja, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

O "Correio da Manhã" faz hoje capa com uma história que tem três anos. A mesma história, exactamente os mesmos protagonistas, e até uma formulação de capa idêntica apareceram na primeira página do extinto "Tal&Qual" em Agosto de 2006. Mas a verdade é esta: já ninguém se lembra. E como ninguém se lembra, volta a ser notícia. Nada se criou, nada se perdeu e bastou transformar um bocadinho a coisa para que ela estivesse novamente pronta a usar.

O mesmo "Correio da Manhã" fez capa há uma semana com uma história que tinha saído no "24horas" quatro dias antes. O "24horas" de amanhã, por sua vez, trará na capa um assunto já tratado pela "Sábado" da passada quinta-feira. Os leitores não são os mesmos, é verdade, mas a recauchutagem é uma coisa que chateia, embrutece, empobrece o espírito.

No século XVIII, Antoine Lavoisier, o primeiro químico a sério, constatou que "na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

No século XIX, Auguste Comte pegou na frase de Lavoisier e adaptou-a à Sociologia, dizendo que "na natureza, como na sociedade, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

No século XXI, Ricardo Martins Pereira pegou na frase de Comte e adaptou-a ao jornalismo, dizendo que "na natureza, como na sociedade, como no jornalismo, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

E é pena que tenha de ser assim.

Mas vou continuar a saltitar para ver se arranco a bola das mãos do adulto.

1 comentário: