domingo, 26 de abril de 2009

O 24

Era champanhe por todo o lado, gargalhadas, o director com um boné que não se-lhe enterrava por completo na cabeça, e lhe dava o ar de totó que não tinha, o chefe de redacção que mal não se aguentava de pé, uma multidão de gente que nunca tinha visto foi naquela noite ao oitavo andar do prédio do Marquês de Pombal. Celebrava-se o fecho do número 1 do 24horas. Foi no dia 4 de Maio de 1998.

Lá no meio andava eu, a mascote do pasquim, puto de 21 anitos, cara de bebé, fascinado com aquilo tudo, com a gente grande em atitudes criançolas, a informalidade dos chefes que até costumavam usar gravata e falar torto.

No dia seguinte de manhã ia para Paris, como enviado-especial. O avião era daí a umas horas, mas por nada eu queria perder aquilo. Sentia que algo estava a acontecer, a nascer, e eu queria estar ali, para uns anos mais tarde poder recordar o momento, falar sobre ele, como agora.

Ontem vivi o renascimento do 24horas. Passaram-se quase 11 anos desde aquela noite de copos no oitavo andar do prédio aqui mesmo ao lado. Já não sou o puto, nem a mascote, sou o chefe que não é formal nem usa gravata e raramente fala torto.
Ontem não houve bebedeiras, nem muitos sorrisos, nem bonés meio enfiados na cabeça de directores, houve sim stresse, pressão e gritos para que se cumprisse religiosamente a inatingível hora de fecho, as 18h30. Conseguímos.
Agora vamos todos à gráfica buscar a criança e olhá-la nos olhos pela primeira vez. Mesmo que dali venha a coisa mais abjecta à face da terra, para nós, os pais, será sempre linda, a mais linda.

O 24horas que hoje chega às bancas é o resultado do esforço de muita gente de qualidade, esforçada, que se empenhou e sacrificou por um produto que acreditamos ser inovador e que poderá, por isso, resistir num mercado cada vez mais difícil.

Agora, venham as críticas, venham os ataques, venham os rótulos. Uma coisa é certa: segunda e terça vamos "vender" mais do que todos os outros diários juntos. :)

E que daqui a 10 anos possa estar a contar tudo sobre mais um renascimento do 24horas. Sinal que o título vingou, que resistiu, que existe.

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