segunda-feira, 27 de abril de 2009

O meu 11 de sonho

Arrastava eu um malão barato pelo aeroporto de Charles de Gaulle quando a marcha imperial do Star Wars se fez ouvir. Procurei o telemóvel em todos os bolsos - estava no último, claro, está sempre. Era de "A Bola", jornal onde trabalhava na altura.

- Tou, Ricardo?! Já chegaste a Paris?
- Acabei de chegar. O Bruno Santos está aqui à minha espera. Porquê?
- Está bem... E então, não tens nada para contar?
- Não... Porquê? O que é que se passa?
- Não leste o "Record" de hoje?
- Não. Acabei de chegar a Paris, e não o comprei no aeroporto. Porquê? Traz alguma história do Zé Azevedo que eu não dei?
- Não... então vê se lês. E começa pelo editorial do Alexandre Pais. E não te esqueças de mim quando fores para o "Record".

Em Julho de 2003 fui enviado-especial de "A Bola" à edição centenária da Volta a França em bicicleta. Foi naquele mês que passei em França que percebi que Paris é mesmo a cidade do amor, porque foi lá que me apaixonei por ciclismo.
Naquele dia, no dia em que aterrei, o director do jornal rival do meu escrevera um editorial em que se armava em treinador de jornalistas e fazia o "11" dos melhores jornalistas com quem já tinha trabalhado. E lá no meio deles estava eu, jornalista de "A Bola".
Perdi a conta aos telefonemas que recebi nesse dia. Não havia uma pessoa que acreditasse que não, que eu não tinha sido convidado para o "Record", que não, que o Alexandre Pais não me tinha ligado para me aliciar a juntar-me ao inimigo, que não, que não voltara a falar com o Alexandre mais de duas ou três vezes desde que eu tinha saído do "24horas", no ano 2000, onde nos conhecemos e trabalhámos juntos.
Os telefonemas divertiram-me. O reconhecimento orgulhou-me.

Hoje vou fazer o mesmo. Vou armar-me em treinador de jornalistas e escolher o 11 ideal de craques da escrita com que já trabalhei. Uns são meus amigos, outros nem por isso, e há mesmo gente de quem não gosto, mas a todos reconheço méritos invulgares. A ideia não é meter só vedetas, mas, sobretudo, fazer uma equipa equilibrada de gente que sabe pensar, escrever, pesquisar e furar.

1. Bernardo Ribeiro ("Record")
É o guarda-redes perfeito - e não é só por ser... largo, vá. É sólido, dá confiança a quem trabalha com ele, sabe comandar equipas, refila quando tem de refilar. Trabalhámos juntos no "24horas" e em "A Bola". Dificilmente nos reencontraremos profissionalmente, porque eu não quero voltar ao desporto e ele não quer sair de lá.

2. João Cristóvão Baptista ("24horas")
É o Dani Alves do jornalismo. Puto, mas com uma invulgar maturidade. Numa equipa de gente mais velha, mais experiente, não lhe caberia o papel de desequilibrador, mas é o que faz todos os dias. Rápido, certinho, inteligente. Está lá tudo.
Continuamos a ser colegas, e espero tê-lo à mão por muitos anos.

3. Manuel Catarino ("Correio da Manhã")
É o central perfeito, um Baresi, um Maldini. Forte, astuto, experiente, raposa velha. Não deixa escapar nada, sabe de tudo um pouco e ninguém lhe passa a perna. Domina a sua área como poucos e sabe dar os gritos certos na hora certa. É uma besta quando tem de ser, e às vezes é preciso sê-lo.
Fomos colegas no "24horas" nos meus dois primeiros anos de carreira.

4. Hugo Vasconcelos ("A Bola")
É um Pepe que não bate nas pessoas. Sólido, sabe sempre encontrar a solução equilibrada para os problemas. Joga simples quando tem de jogar, mas sabe ir lá à frente marcar golos, mesmo que não seja essa a sua função. Sabe ser central, trinco, defesa-direito ou ponta-de-lança. É o jogador que qualquer um quer ter na equipa.

5. Nuno Perestrelo ("A Bola")
É o Roberto Carlos nos seus bons tempos. Ai querem que seja defesa-esquerdo? Tudo bem, eu sou. Mas eu gosto é de ir lá à frente marcar livres. E vai. E marca. É o homem a quem se pede uma coisa e ele consegue sempre isso e um extrazinho. Depois ainda transcende as suas funções e quando damos por ele já fintou meia equipa adversária e está isolado em frente ao guarda-redes. É o homem que gosta de ter o balneário com ele e dá-se tão bem com o treinador como com o puto acabado de chegar dos júniores.
Fomos companheiros no "24horas" e na "Focus". É das pessoas que mais falta me fazem na redacção.

6. Pedro Jorge Castro ("Sábado")
É o Xavi, o carregador de pianos, o líder, o patrão da equipa. É o homem que quando não está, a equipa vai ao fundo. Sabe pensar, sabe comandar, sabe agir na hora certa. Não pára um minuto e dá tudo dentro de campo, seja contra o Real Madrid seja contra o Mataró. É raro o talento de um trinco ser reconhecido. Xavi foi eleito o melhor jogador da Europa em 2008. O Pedro Castro foi eleito por mim como o melhor jornalista com que já trabalhei.
Fomos colegas no "Portugal Diário" e no "24horas". Pronto, e também fomos colegas de casa durante um ano.

7. Ana Sofia Fonseca (free-lancer)
Tem o talento de Cristiano Ronaldo, mas arma-se em Dominguez. Sabe tudo sobre fintas, adora adornos, gestos técnicos, maldades aos adversários. É uma alegria vê-la dar toques nas palavras, pará-las em cima da cabeça, atrás da nuca, no joelho. Uma artista. Marcasse golos e seria uma estrela.
Trabalhámos juntos no "24horas".

8. Rui Hortelão ("Diário de Notícias")
É um Deco. Sabe construir jogo, sabe vir atrás defender, recupera bolas, sabe levar a equipa para a frente, sabe driblar e ainda marca golos. É o homem que gosta de ter a bola nos pés e mesmo que não a tenha ela vai lá parar, porque há sempre alguém que lha passa à espera que ele faça algo de bom.
Trabalhámos juntos no "24horas" e na "Focus"

9. Miguel Pinheiro ("Sábado")
É o Ibrahimovic. Bola nos pés é golo pela certa. Sabe pensar, esperar e actua no momento certo. Um fora-de-série.
Trabalhámos juntos no "24horas".

10. Nuno Miguel Maia ("Jornal de Notícias")
É o Messi do jornalismo português. Sabe tudo sobre bola. Tem a garra de um puto, a experiência de um senior, um talento ímpar. Não tem defeitos. É claramente o jogador que faz a diferença, que marca os golos decisivos, que arquitecta as jogadas mais fantásticas. Quase nunca falha. E ainda consegue ser importante no balneário.
Fomos colegas em "A Bola" e no "24horas".

11. Ferreira Fernandes ("Diário de Notícias")
Zizou. É o Zidane. Pezinhos daqueles há poucos. Cabecinhas assim também. Adora pensar o jogo e pôr a equipa a mexer. Brilha quando tem de brilhar e aparece sempre a desequilibrar nos momentos-chave e nos grandes jogos.
Trabalhámos juntos na "Focus".

Suplentes de luxo: Luís Fontes ("24horas"), Emídio Fernando ("TSF"), Rui Gustavo ("Expresso"), Alda Rocha ("Focus"), Paulo Caetano (deixou o jornalismo), António Magalhães ("Record"), Miguel Cardoso Pereira ("A Bola"), Ana Maia ("24horas"), Gerardo Santos ("24horas"), Pedro Emanuel Santos (desemprego), Raquel Lito ("Sábado"), Ana Carreteiro ("24horas"), Catarina Guerreiro ("Diário de Notícias"), Lina Santos ("24horas"), Luís Silvestre ("Sábado"), Marco Alves ("24horas"), Francisco J. Marques (perdi-lhe o rasto) e Sávio Fernandes ("24horas").

E estes admiro-os da bancada: João Miguel Tavares ("Time Out" e "DN"), António Costa ("Diário Económico"), Nuno Vinha (Lusa), Ângela Marques ("Diário Económico"), Micael Pereira (free-lancer), Miguel Alexandre Ganhão ("Correio da Manhã"), Ana Garcia Martins ("Time Out"), Ricardo Santos (free-lancer), Eduardo Dâmaso ("Correio da Manhã") e Rodrigo Guedes de Carvalho ("SIC").

Tenho a certeza de que me esqueci de muitos. Desculpem lá qualquer coisinha.

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